QUEM SOMOS NÓS

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Somos uma organização marxista revolucionária. Procuramos intervir nas lutas de classes com um programa anticapitalista, com o objetivo de criar o Partido Revolucionário dos Trabalhadores, a seção brasileira de uma nova Internacional Revolucionária. Só com um partido revolucionário, composto em sua maioria por mulheres e negros, é possível lutar pelo governo direto dos trabalhadores, como forma de abrir caminho até o socialismo.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Declaração da maioria do CL ao congresso da FCT


Uma última declaração para o congresso da FCT.

 

Escrevemos este documento para tentar sintetizar nossas principais posições e propostas acerca das discussões que tomarão parte no congresso da FCT, neste domingo.

Em nosso documento, escrito há alguns meses e postado no grupo da FCT, explicitamos algumas de nossas principais divergências com o dito “programa” da frente, além disso, fizemos propostas visando um funcionamento mais democrático e saudável dos espaços e ferramentas da FCT. Listamos abaixo um breve apontamento dessas questões:

 

1 - A palavra de ordem permanente de frente única com o mal menor.

Essa posição se coloca tanto no âmbito nacional quanto internacional. A nível nacional, temos um impressionismo sobre a questão do golpe e/ou ascensão da direita que faz com que alguns companheiros virem os olhos para o PT como agregador de uma suposta resistência às ofensivas da direita. Todas as dezenas de concessões feitas para a burguesia, tanto internacional quanto nacional ao longo dos 3 mandatos não foram suficientes para mostrar de que lado o PT está na luta de classes. O voto crítico em Dilma nas últimas eleições foi justificado por um acirramento de forças entre esquerda e direita (ou até entre burguesia e trabalhadores), sintetizado por PT e PSDB. Muitas analogias históricas de frente única, que os comunistas defenderam e participaram, foram utilizadas como justificativa. A pobreza de análise em entender a diferença das condições atuais com as de um século atrás, faz alguns igualarem a resistência de um golpe militar reacionário e imperialista na Rússia pré-revolucionária de 1917 (e outros episódios enciclopédicos) com as eleições burguesas do Brasil de 2014 e esquecerem que a única posição revolucionária numa eleição burguesa é aquela que denuncie em primeiro plano a farsa eleitoral, sem concessões.

Essa tática do mal menor, se alastrou até os dias atuais, com a desculpa de um pretenso golpe para justificar o combate primeiro a uma direita do que contra os ataques do governo Dilma à população. Achando que o PT se tornou vítima da pressão de uma direita golpista, quando este só mais uma vez colocava em prática o programa que sempre se propôs a seguir, o de conciliação de classes. Para os que falham em entender os papéis do Estado e a postura que os comunistas devem ter perante eles, sugerimos a leitura do livro “Estado e Revolução” de Lenin, onde ele tenta mostrar como o Estado se configura como a ferramenta de dominação que a classe dominante usa contra a classe dominada.

Nenhuma revolução social pode ser bem sucedida sem que o Estado seja destruído e substituído por um novo, representante da classe que dirigiu a revolução. Especificamente nos dias de hoje, o Estado nacional burguês se configura como o principal inimigo da classe trabalhadora. É claro que na época do imperialismo, os estados nacionais se interligam e formam coligações em prol dos interesses dos grandes bancos e corporações. Mas por questões óbvias, é mais vantajoso que a classe trabalhadora, sem perder a perspectiva internacionalista de destruição do capitalismo, combata em primeiro plano a ferramenta maior de dominação da burguesia alojada em seu país: seu estado.

É claro que haverá raríssimas ocasiões em que o Estado nacional possa vir adotar (apesar de pouco provável, pois está sempre alinhado com a lógica imperialista) posturas que coincidam com os interesses imediatos da classe trabalhadora e sejam minimamente contrários à gatunagem imperialista. Nesses casos raros e muitos específicos, é necessária a agitação da frente única de organizações classistas, mas sem nunca esquecer que os Estados nacionais oprimidos tenderão muito mais a negociar e se submeter ao imperialismo do que lutar ao lado da classe trabalhadora até as últimas consequências. Portanto, não se pode nunca deixar de propagandear em primeiro plano que o Estado será o primeiro a voltar as armas para as cabeças dos trabalhadores e trabalhadoras, após a passagem da contenda específica. A frente única há de ser unicamente uma trégua com o Estado para combater um mal mais pernicioso.

Esse não é o caso atual. Não era o caso das eleições passadas. O PT continua a implementar a agenda neoliberal, sem pestanejar. E o teria feito mesmo sem ameaças insipientes de impedimento ou golpe talvez em menor velocidade. O estado continuou sendo o principal inimigo, com todas as suas reformas, extermínios de pobres e negros, intervenções militares em países vizinhos. Se 12 anos da mesma ladainha nada ensinaram sobre onde deve estar o foco da propaganda revolucionária, não sabemos o que o fará.

Sobre a direita que se faz mais notável no último ano, não há nada de novo nisso. A direita que tem ido às ruas é a base dos partidos que compõem o Estado, ora majoritariamente, ora minoritariamente. Não se pode negar que a consciência da classe trabalhadora muitas vezes se encontra muito próxima da direita e essa consciência não se pode deixar por um instante de ser disputada no dia a dia da militância. O combate à direita não pode cessar nunca, tal como o combate ao Estado. Mas um não pode deixar de existir em detrimento do outro porque ambos caminham sempre de mãos dadas.

Para o nível internacional, a estrutura que se apresenta é a mesma. Uma pseudoteoria formulada para justificar uma chamada de frente única permanente com um mal menor, nesse caso, com o imperialismo mais fraco.

A classe trabalhadora pouco ou quase nada tem a ver com disputas entre chefes de Estados de potências imperialistas. O principal exemplo disso foi a posição dos comunistas na primeira guerra mundial. As classes trabalhadoras deviam apontar suas armas para seus Estados e patrões e não tomar partido em disputas por novos mercados ou colônias. O que acontece hoje é exatamente a mesma coisa. A sede imperialista faz com que as potências sigam sempre em busca de mais, mais lucro, mais matéria prima, mais mão de obra, mais capital. Isso não mudará jamais, até que a classe trabalhadora organizada internacionalmente consiga ser uma alternativa à essa lógica de rapinagem das nações mais pobres. Um bloco imperialista menor ameaçando o hegemônico em nada afetará a correlação de forças na luta de classes internacional. Chamar uma frente única permanente contra o imperialismo hegemônico com qualquer setor que se autoproclame anti-imperialista é simplesmente apostar a sorte da classe trabalhadora na mudança de engravatados que terão por ora mais poder na conjuntura econômica do mundo. Torcer e agitar que a classe trabalhadora deve encampar com seus inimigos, que simplesmente anseiam ter mais poder para esmagá-la mais fortemente é no mínimo irresponsável e a longo prazo devastador para a perspectiva de se construir uma alternativa independente e classista de luta contra o imperialismo.

Não gostamos de fazer análises psicologicistas, mas é interessante que os campos para frente única escolhidos pelos companheiros sejam aqueles que tenham um mínimo de ligação com uma antiga tradição de lutas da classe trabalhadora. Tanto o PT, como o bloco russo-chinês (ex estados operários) parecem trazer uma falsa e doce ilusão de ainda serem uma opção de resistência aos largos avanços do imperialismo. Essa armadilha psicológica de depositarmos confiança em instituições que não são nem a sombra do que já foram um dia, apesar de parecerem reconfortante e um refúgio atrás do qual é possível se esconder e encontrar todas as respostas para os problemas do mundo; não são nada além de uma cegueira para a situação deplorável que se encontra a classe trabalhadora, a nossa classe, majoritariamente sem referência em qualquer forma de luta, que os revolucionários e revolucionárias  tanto anseiam por criar. Mais cedo ou mais tarde haveremos de perceber que se apegar a um passado distante para encontrar as repostas para um futuro não é nada mais que adiar um problema urgente de se resolver, o que só piora a situação da nossa classe.

 

Trouxemos também propostas para uma construção mais democrática e aberta do jornal da FCT. Pedimos simplesmente que os textos fossem disponibilizados com uma semana de antecedência para dar oportunidade aos militantes de lerem e minimamente debaterem as posições dos textos. Pedimos que isso fosse feito de maneira a expor todos os textos que comporiam o jornal, indicando os títulos e links dos textos. Incluimos um pedido para que a comissão editorial, que só tomamos conhecimento da existência recentemente, seja apresentada de forma transparente e encarregada das tarefas para tonar a confecção do jornal mais democrática.

Pedimos também uma maior consideração das posições que não são consensuais dentro da FCT e que na nossa opinião não aparecem como fundamentais para a classe trabalhadora. Concordamos que o jornal deve ser um instrumento de propaganda para as massas e por isso deve ser prioritariamente um palco para as denúncias dos males que mais afetam a classe trabalhadora.

 

Após a última reunião do CL, resolvemos levar para o congresso mais algumas propostas. Algumas foram consensuais e outras não.

Consensuais:

- Opressões específicas: o CL possui a tradição de defender e agitar as questões das opressões de sexo, gênero e grupos étnicos minoritários como uma questão fundamental na luta contra o capitalismo. Entendemos que no último século, o capitalismo se consolidou, tendo como uma das principais fontes de mais valia a segregação de “trabalhadores de segunda classe”. Podemos citar dois exemplos. O primeiro trata da questão do povo negro no Brasil, que encurralado em favelas e periferias, exterminado diariamente pelas polícias  e sempre empurrado para sub empregos enquanto instituições como universidades, cargos públicos e até de empresários ficam relegados para uma elite branca. Isso acontece com outros grupos minoritários, como os negros e negras, latinos e latinas e árabes nos Estados Unidos e União Europeia. Também acontece, embora em menor escala com os indígenas no Brasil. O segundo ponto possui uma importância a nível global e trata da questão da mulher. As mulheres carregam o passado da opressão em toda a história da luta de classes, em todas as sociedades. Na sociedade capitalista contemporânea continuam sendo de longe o principal alvo da dupla jornada, empregos mal pagos, objetificação e violência sexual, falta de representação nos espaços de decisão, inclusive da militância de esquerda.

Entendemos, que uma organização que se pretenda ser revolucionária e lutar por uma sociedade livre de opressões precisa se engajar nesse combate a partir de hoje, por entender que uma luta por igualdade de sexo, gênero e etnias é uma luta contra o capitalismo. Uma organização de vanguarda aqui no Brasil, será realmente representante da classe trabalhadora quando for composta majoritariamente por negros e mulheres, como o Coletivo Lenin defendeu desde sua fundação.

Um sintoma de que as organizações de tradição marxista não tem dado conta de responder a essas questões fundamentais é o surgimento cada vez maior de organizações de vanguarda que lutam contra o racismo e o machismo e não se reivindicam marxistas e a falta de protagonismo das organizações tradicionais de esquerda nessas lutas.

Em vista disso, trazemos a proposta, utilizada pelo Coletivo Lenin em muitos momentos, que toda vez que produzir um material para divulgação para as massas (como o jornal da FCT) seja obrigatório que se contenha pelo menos um texto com a temática de opressões, com o intuito de aprofundar o debate em torno desses pontos com a própria classe e outras organizações de vanguarda e poder construir um programa específico dessas lutas.

Para iniciar o debate, temos três materiais do Coletivo Lenin que podem ser utilizados. São livretos de nome: “A escravidão é a chave da história no brasil”, “Revolução Permanente na África” e “Os comunistas e a questão sexual”.

 

Ecologia:

Uma outra proposta foi a de aprofundar o debate sobre ecologia, por entender que somente uma sociedade socialista planificada para atender as necessidades da humanidade pode dar conta de uma produção sustentável que torne possível a permanência da vida humana na Terra. Os companheiros Thieplo e Sairo levantaram esse tema e ficaram responsáveis de apresentar dois documentos no Congresso da FCT com essa temática.

 

Sobre o futuro da FCT (não consensual)

 

Nós do Coletivo Lenin sempre defendemos iniciativas e nos engajamos em muitas delas que visem a reunificação da vanguarda, com o objetivo de criação de um partido revolucionário da classe trabalhadora. Entendemos que a FCT foi uma dessas iniciativas e apesar de nossas críticas, acreditamos que construímos um processo válido para nosso objetivo.

Acreditamos ser um erro nesse momento a criação de uma nova organização centralizada, que dificultará o contato com outros militantes independentes e organizações que estão sentindo a mesma necessidade de se organizar mais coletivamente de forma ampla e democrática, sem precisar se centralizar em torno de um programa fechado. Após uma tentativa frutífera de fundar um espaço revolucionário, achamos que descartar tal espaço para se fechar novamente numa organização com meia dúzia de militantes será um retrocesso.

Queremos deixar claro então que somos contra a criação de mais uma nova organização fechada e centralizada nesse momento. Entendemos, no entanto que essa nova organização será provavelmente criada no congresso e que não cabe a nós nenhuma atitude impedidora.

Em vista disso, propomos, que mesmo que alguns companheiros decidam formar uma organização, a FCT se mantenha entre esta e o CL e quaisquer outros militantes e organizações que estejam dispostos a construí-la. Defendemos isso, acreditando na liberdade de qualquer militante de pertencer a qualquer organização que achar melhor e ainda sim de continuar com a iniciativa de um espaço mais amplo e tão necessário quanto no processo de construção de uma organização de massas que possa finalmente marchar junto com a classe trabalhadora rumo à revolução socialista.

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