QUEM SOMOS NÓS

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Somos uma organização marxista revolucionária. Procuramos intervir nas lutas de classes com um programa anticapitalista, com o objetivo de criar o Partido Revolucionário dos Trabalhadores, a seção brasileira de uma nova Internacional Revolucionária. Só com um partido revolucionário, composto em sua maioria por mulheres e negros, é possível lutar pelo governo direto dos trabalhadores, como forma de abrir caminho até o socialismo.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Brasil! Parar a Copa! Romper com a Frente Popular! (Comitê de Ligação dos Comunistas)


Reproduzimos aqui a declaração dos companheiros do LCC (Comitê de Ligação dos Comunistas), corrente internacional presente nos EUA, Nova Zelândia e Zimbábue, para discussão sobre a situação política e a estratégia dos revolucionários brasileiros na luta contra os efeitos da Copa.




É a grande luta dos trabalhadores contra a crise capitalista no Brasil!

Abaixo a frente popular do PSTU etc. com o PT e a burguesia!

Construir conselhos de trabalhadores e autodefesas para defender a classe das forças do Estado!

Pela Greve Geral para unir o proletariado e lutar por um Governo Operário e Camponês!


Desde a abertura da nova crise mundial em 2007, o Brasil sofreu um duro golpe no seu crescimento econômico, compartilhado por todos os outros BRICS, menos a China e a Rùssia, que são potências imperialistas ascendentes, que estão transformando os outros BRICS em semicolônias. DIante da crise, os trabalhadores começam a lutar para não pagá-la com a perda dos seus salários e demissões em massa. Todos os trabalhadores começam a ver a necessidade da união, mas como ela vai acontecer? Com medo dos trabalhadores se unirem pela base, os partidos reformistas e centristas e os burocratas de esquerda nos sindicatos lidam com a nova militância e a exigência de unidade com uma estratégia de contenção, a "tática de unidade de ação", que significa unidade com a burocracia dominante. Mas eles não esperavam que um movimento de massas fosse se levantar contra a Copa do Mundo, no coração do plano do imperialismo e do regime de frente popular do PT para fazer os trabalhadores brasileiros pagarem pela crise capitalista global!


Os burocratas tentam prender os trabalhadores à frente popular com a "tática de unidade de ação".

O PSOL demonstrou há muito tempo a sua capitulação ao governo de frente popular, com a sua unidade com a burocracia sindical, e com os partidos burgueses nas eleições. A unidade do PSTU com a burocracia começou há 6 anos atrás, no sindicato dos professores do Rio Grande do Sul, através da estratégia de contenção da "tática de unidade de ação". Ela foi implementada em várias eleições sindicais em todo o país. As experiências com essa tática estão mostrando que ela serve pra fortalecer a burocracia e promover a versão PSTU do governo de frente popular.

O PSTU foi mais além com a "tática de unidade de ação" com a burocracia e estendeu essa tática a uma frente nacional nos sindicatos, o Espaço de Unidade de Ação. Essa frente popular nacional foi formada há 2 anos atrás, e ganhou apoio em várias atividades e encontros, incluindo o que levantou a palavra de ordem contra a Copa, "Na Copa vai ter luta". A direção do PSTU alegou que essa tática era importante para unir a esquerda. Apesar do nome, não se trata de unidade para uma ação específica, e sim uma frente popular organizada onde os grupos compartilham um programa de reformas comum, prendendo os trabalhadores à CUT e ao PT.

 A "esquerda" marxista no Brasil, como em todo lugar, continua muito fragmentada, mas não vê problema em se unir debaixo das bandeiras da CUT. Por exemplo, na educação, enquanto o governo aplicava o seu plano de privatização, o PNE (Plano Nacional de Educação), os professores estavam em greve em todos os Estados do país e lutar em escala nacional era uma necessidade reconhecida por todos. Mas a burocracia não chamou a unificação das greves. A CUT terminou chamando uma greve a favor do PNE, então os trabalhadores ficaram presos novamente na "tática de unidade de ação", aplicada pela esquerda da frente popular.

Quanto mais a luta de classes se intensificava no período, mais a burocracia traidora de esquerda tentava prendê-la à frente popular da CUT e do PT. Essa tática, iniciada pelo PSTU no movimento sindical, levou a uma frente eleitoral com o partido governista PCdoB nas eleições burguesas de 2012, na cidade de Belém. Agora o MES/PSOL entrou na central sindical CSP-CONLUTAS para promover o Espaço de Unidade de Ação.


A Copa do Mundo: um plano do imperialismo e da burguesia nacional para fazer os trabalhadores pagarem pela crise

A Copa levou a luta de classes a um auge. Ela aprofundou as contradições de classe no Brasil, já que os patrões a usaram para resolver a crise com violência, fazendo investimentos em serviços de infraestrutura que não vão durar depois dela e, ao mesmo tempo, esmagando a resistência da classe trabalhadora ao ataques aos seus bairros, seus direitos básicos e suas vidas.

Nenhuma organização resolveu adotar a palavra de ordem das massas como eixo de intervenção no movimento. A CST/PSOL (UIT) defende uma greve geral para parar a Copa, "Não vai ter Copa", mas por dentro do Espaço de Unidade de Ação, na extrema esquerda da frente popular. A maioria da burocracia de esquerda levantou a palavra de ordem "Na Copa vai ter luta", contra as massas que falam "Não vai ter Copa".

Isso prova que as massas estão muito à frente dos burocratas de esquerda que lutam agora para conter o ascenso. Afirma que lutar "na Copa" significa atividade sem objetivo que não aponta nenhuma tarefa concreta para os trabalhadores. Significa derrota para os trabalhadores, num momento em que a Copa expressa tudo de podre e destrutivo no capitalismo em crise. Mas a luta para parar a Copa já está acontecendo, e toda a classe está se manifestando por essa reivindicação. A nossa tarefa é levantar essa bandeira e aprofundá-la politicamente.


A luta contra a Copa do Mundo é parte do ascenso global dos trabalhadores para não pagarem pela crise dos patrões

Se somando aos levantes mundiais no novo período de crises, apareceu o movimento de massas contra a Copa do Mundo, em junho passado, no Brasil. Antes, houve sinais de uma situação transitória: greves de professores e da construção civil em todo o país, greve dos portuários e petroleiros, luta dos sem-tetos, o levante dos bombeiros do Rio de Janeiro etc. No começo de 2013, o movimento da juventude contra o aumento das tarifas do transporte público cresceu , até a Copa das Confederações, que viu um grande aumento das manifestações de rua. As redes sociais foram a chave para construir as manifestações. O levante foi uma surpresa para todos, ninguém estava preparado. A palavra de ordem "Não vai ter Copa" veio espontaneamente do movimento de massas. Nenhuma organização propôs a palavra de ordem ao movimento.  

Depos da manifestação nacional em 20 de julho, veio um chamado à Greve Geral em 1° de julho. A burocracia sindical rapidamente se unificou para dizer que a greve geral foi chamada pela "direita" e por "fascistas", e que só ela poderia chamar uma greve geral. As centrais sindicais, CSP Conlutas (controlada pelo PSTU) e Intersindical (controlada pelo PSOL) fizeram "unidade de ação" com a CUT (controlada pelo governo/PT), e com outras centrais patronais e burguesas (FS, UGT, Nova central etc), e boicotaram a greve geral, chamando um "Dia Nacional de Luta" em 11 de julho. A greve geral de 1° de julho não aconteceu. Mas, no dia 11, as massas deixaram a burocracia sozinha fazendo as suas falsas manifestações, e fizeram uma greve geral. O Rio Grande do Sul parou completamente. Muitas cidades do país pararam. Depois do levante de junho, o movimento sempre cresceu. Sem-tetos, jovens, moradores das favelas, o proletariado, os professores e os motoristas de ônibus começaram greves. As greves dos professores e garis do Rio de Janeiro e dos motoristas de ônibus de Porto Alegre provaram aos trabalhadores brasileiros que as maiores conquistas foram ganhas contra a política da burocracia sindical. 


No mês anterior à Copa do Mundo, estamos vivendo uma onda de greves, e o movimento "Não vai ter Copa" está crescendo

Para o movimento popular, que está à frente da maioria dos protestos, a palavra de ordem "não vai ter  Copa" reflete as necessidades das pessoas que estão perdendo suas casas e sendo excluídos por causa da Copa. Para o movimento operário, há indignação e raiva crescentes porque os bilhões de reais gastos na Copa do Mundo vão para os bolsos dos ricos, enquanto as condições de vida e trabalho só pioram. O movimento de massas crescente não vai se limitar à Copa, mas também vai criar muito protesto popular nas próximas eleições. Por exemplo, jovens radicalizados como a FIP, que surgiu nas manifestações do Rio de Janeiro em junho passado, levantaram a bandeira, "Não vai ter Copa nem eleição!"

A burocracia de esquerda é obrigada a aderir ao "Não vai ter Copa", propondo, em vez da agitação das massas, palavras de ordem que desviam a luta contra a Copa. "Copa pra quem?", "Se não tiver direitos, não vai ter Copa", "Na Copa vai ter luta" etc. É tanta a pressão vinda de baixo que a burocracia de esquerda, no seu Espaço de Unidade de Ação, será forçada a chamar uma greve geral, mas já mostrou que vai tentar contê-la.

A burocracia já está se preparando para isso. A CSP Conlutas (PSTU), no Espaço de Unidade de Ação com a "esquerda" da CUT (CUT Pode Mais) fez um encontro nacional para discutir a copa. Como dissemos, eles são contra a palavra de ordem das massas, "Não vai ter Copa', e chamam por "Na Copa vai ter luta", para lutar contra as "injustiças" da Copa. Eles querem uma Copa limpa sem ataques aos trabalhadores e sem corrupção! Eles alegam que a palavra de ordem das massas é muito radical. Mas ela veio do movimento de massas e expressa claramente as suas necessidades. Nenhuma organização ou programa pôde levantar essa palavra de ordem, porque sabem que não podem controlar um movimento assim dentro da frente popular. Agora, querem enfraquecer e conter as lutas para legislarem para reformar as "injustiças" nas próximas eleições!


Preparar a Greve Geral!

Temos que levantar a palavra de ordem das massas e politizá-la. A greve geral é o caminho para unir os trabalhadores com o movimento popular e a juventude. Ela deve ser ligada ao não pagamento da dívida externa e da dívida da Copa. Ela deve se unir com as greves nas indústrias, setor automobilístico, educação, construção etc. Uma greve geral contra a Copa pode ser o meio para unir todas as lutas isoladas. A greve geral é o caminho para unir a classe trabalhadora no caminho para a revolução socialista. Ela torna possível levantar reivindicações que vão permitir que os trabalhadores se unam e se organizem para expropriar, ou seja, tomar de volta, a propriedade capitalista, expropriada de gerações de trabalhadores e camponeses explorados.

Nas greves atuais já se debate a greve geral. A UIT-QI foi a primeira organização a chamar a greve geral. Até as organizações ligadas ao governo foram obrigadas a aderir ao movimento "Não vai ter Copa", como o MST, apesar do governo ter criado o movimento "Vai ter Copa!" Somente organizações centristas como o PCO, que cobrem o PT pela esquerda, não aderiram ao movimento "Não vai ter Copa". Infelizmente, os que chamam a unificação das greves atuais e lutam por uma greve geral não baseiam essa unidade em parar a Copa, e sim na palavra de ordem reformista "Na Copa vai ter luta", para continuarem assim a operar dentro do Espaço de Unidade de Ação da burocracia de esquerda, e não romperem com a frente popular.

É por isso que isolar as greves do movimento para parar a Copa só ajuda a união da frente popular! Por exemplo, a campanha da CCR (Corrente Comunista Revolucionária) na APEOESP chama todos os professores a se unirem numa greve geral, mas ignora a luta contra a Copa, que pode estender essa unidade a toda a classe trabalhadora e tornar possível uma greve geral. Já se ouvem nas fileiras dos que estão em greve, e são muitos, gritos de "Não vai ter Copa!" e ameaças ao governo. Da mesma forma, a FLTI (Fração Leninista-Trotskista Internacional), chamando a unidade de todas as lutas, se foca na indústria automobilística, e ignora o movimento de massas contra a Copa, que é a chave para unir toda a classe trabalhadora em uma greve geral.

O movimento contra a Copa é o que une os trabalhadores ao movimento popular e à juventude, contra a maior expressão da aliança do governo de frente popular com as grandes empresas e o imperialismo - a Copa do Mundo! O objetivo da "esquerda burocrática" é desviar as massas para "lutas" sem sentido que não vão a lugar nenhum a não ser as próximas eleições, onde ela vai instalar a sua frente popular nos sindicatos como uma frente popular com o governo e o PT. Os revolucionários têm o dever de expor as alas esquerdas da frente popular e substituir os seus dirigentes traidores por um partido e um programa capazes de abrir caminho para a revolução socialista!


Parar a Copa do Mundo!

Romper com a Frente Popular!

Não pagamento da dívida externa! Não pagar a dívida da Copa!

Salário mínimo vital, educação, saúde, moradia e previdência social gratuitas!

Abaixo a frente popular do PSTU com a CUT e o governo do PT!

Unir todos os trabalhadores e camponeses em luta numa conferência nacional para preparar a greve geral!

Construir conselhos e autodefesas operárias!

Por um partido revolucionário de massas e pelo programa revolucionário!

Por um novo Partido Mundial da Revolução Socialista!

Expropriar todas as propriedades imperialistas e capitalistas nacionais!

Instituir o controle operário da produção. Por um plano nacional de produção para as necessidades, e não para o lucro!

Por um Governo Operário e Camponês e pelos Estados Unidos Socialistas das Américas!


Escrito por um simpatizante brasileiro da LCC
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sábado, 17 de maio de 2014

Encontro da Frente Nacional de Oposição Bancária - SP, 31/05 e 01/06


Reproduzimos aqui a convocatória dos companheiros do coletivo Bancários de Base/SP


Todos os anos nossas campanhas seguem o mesmo roteiro: o sindicato não está presente no dia a dia, não reúne representantes e delegados sindicais, inventa uma pauta rebaixada (em congressos compostos por burocratas, sem a presença de trabalhadores), não realiza atividades preparatórias e assembleias, conduz uma greve de fachada, fecha um acordo ainda mais rebaixado e encerra a campanha com a presença maciça de gerentes e fura greves nas assembleias, sem que os pontos que afetam nossa vida tenham sido realmente discutidos. Isso precisa mudar!

Precisamos discutir: estabilidade no emprego, fim das metas e do assedio moral, mais contratações, isonomia, planos de cargos e salários, PLR linear, etc., durante a campanha salarial! Precisamos de uma assembleia para definir a pauta da campanha salarial! Precisamos eleger em assembleia os nossos representantes para a mesa de negociação!

Precisamos aprender com os manifestantes que começaram a mudar o país no ano passado, e com as demais categorias que desde então fizeram suas greves por cima da direção dos sindicatos: precisamos nos auto organizar. Em 2013 demos um primeiro passo quando bancários que estão na base fizeram piquetes de verdade, sem precisar da direção do sindicato, trancando os prédios e dando prejuízo aos bancos.
Este ano temos que dar continuidade a esse processo. Ainda não podemos legalmente fazer greve sem o sindicato, mas podemos organizar a greve sem a diretoria! Discuta com seus colegas, reúna-se, participe!

Para dar o pontapé inicial na preparação de uma campanha salarial alternativa, vamos realizar em São Paulo o Encontro da Frente Nacional de Oposição Bancária. O Encontro é aberto a todos os trabalhadores que queiram fazer uma campanha salarial de verdade, uma greve que não seja de fachada, sem a direção do sindicato, sem os burocratas e traidores. Junte-se a nós!

Depois das manifestações de 2013, várias categorias de trabalhadores aprenderam uma importante lição: é preciso tomar o controle de suas lutas das mãos dos burocratas e pelegos que dirigem os sindicatos. Foi assim com os garis do Rio, ABC e BH, condutores de Porto Alegre e agora do Rio, professores municipais do Rio e São Paulo, etc.

Esses trabalhadores fizeram suas greves passando por cima da direção dos sindicatos. Formaram comandos de greve, elegeram seus próprios representantes, trabalhadores que estão no dia a dia dos locais de trabalho, enfrentaram os patrões e conseguiram importantes vitórias. Os bancários precisam fazer o mesmo!

O país está mudando, os trabalhadores já não aguentam mais ser enganados. Quem achava que a Copa do Mundo iria calar a boca do povo caiu do cavalo. Antes de ter começado, a Copa já era! Os trabalhadores aprenderam que pela luta se conquista. Queremos educação, saúde, transporte, moradia de qualidade, queremos o fim da corrupção, queremos melhores salários e condições de trabalho. Estamos nas ruas protestando e não vamos mais parar!

Os grandes ausentes nessas lutas são os sindicatos. As principais organizações dos trabalhadores não estão participando das lutas que estão mudando o país, por um motivo: eles não querem mudanças, eles estão aliados aos patrões, eles defendem os governos. As centrais sindicais, CUT, CTB, Força, UGT, etc., estão alinhadas aos partidos do governo (PT, PMDB) ou da oposição (PSDB, PSB), partidos que representam os interesses dos banqueiros, dos latifundiários, empreiteiras, industriais, especuladores estrangeiros, etc.

Os trabalhadores precisam romper com essas entidades e esses partidos e construir suas próprias organizações. A Frente Nacional de Oposição Bancária é formada por coletivos de várias partes do país que tem em comum o fato de que não se aliam com representantes dos partidos patronais, não fazem chapas para os sindicatos e entidades com a presença de governistas, não participam dos congressos viciados, em que os burocratas que estão há anos ou décadas afastados da nossa realidade inventam pautas rebaixadas e preparam a derrota das nossas lutas.

A Frente Nacional de Oposição Bancária ainda está em construção, e precisa da sua participação, das suas ideias e da sua disposição para se tornar grande, pois grandes são as tarefas que temos pela frente para mudar a realidade dos bancários e do nosso país!

É PRECISO MUDAR, É POSSÍVEL VENCER!

Auditório do SINSPREV - Rua Antonio de Godoi 88, 2º andar, em frente ao largo Santa Ifigênia


QUEM SOMOS: O coletivo Bancários de Base é formado por trabalhadores que estão no dia a dia das agências e departamentos, enfrentando a cobrança dos gerentes, o excesso de clientes e a sobrecarga de serviço. Nos reunimos periodicamente para discutir maneiras de mudar essa realidade. O sindicato e outras entidades não têm servido mais como espaço para nossa organização, por isso somos oposição à diretoria e discutimos entre nós tudo que nos diz respeito. Participamos da Frente Nacional de Oposição Bancária – FNOB, formada por coletivos de todo o país que também tem como compromisso organizar os trabalhadores a partir da base. Não somos controlados por nenhum partido nem aceitamos financiamento de nenhum tipo de entidade. Elaboramos nossos panfletos com nossos próprios recursos e divulgamos nossas idéias em nossa página na internet (www.bancariosdebasesp.blogspot.com.br.). Participe! Somente com a participação coletiva podemos encontrar maneiras de melhorar nossa situação como trabalhadores bancários. Fale conosco! (bancariosdebase@yahoo.com.br)

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terça-feira, 13 de maio de 2014

Todo apoio à greve dos trabalhadores rodoviários do Rio!


Tem momentos na história da luta por direitos dos trabalhadores que ficam marcados na memória. Esse ano tem tudo para ser um desses momentos.

Parece que finalmente o ascenso, sem programa e conteúdo político definido claro, do ano passado, está dando alguns frutos. A coragem e ousadia de parte dos manifestantes que saíram às ruas com a vontade honesta de lutar por uma sociedade minimamente melhor, inclusive dispostos a enfrentar os cães de guarda do Estado, a famosa PM do Rio; conseguiu soprar um pouco de inspiração na classe trabalhadora, que é o sujeito principal na luta contra o Estado.

Esse ano, já tivemos um dos exemplos mais emblemáticos na luta de classes carioca e brasileira. A greve mais que vitoriosa dos garis no carnaval que conseguiu arrancar com os dentes o aumento salarial de 37% das mãos do Governo. Mesmo com ameaças de demissões, agressões da polícia, a categoria permaneceu unida e não recuou um centímetro nessa luta memorável. Um exemplo para se aprender e contar pras gerações futuras de militantes.

Agora, temos novamente mais um exemplo, tão importante quanto a luta dos garis, acontecendo hoje. Os trabalhadores rodoviários estão engajados na greve da categoria mais forte e radicalizada dos últimos anos. Milhares de trabalhadores permanecem unidos na mobilização e na luta contra os seus patrões e o Estado, por condições dignas de trabalho, aumento salarial, fim da dupla função e da exploração abusiva (cobrança
arbitrária de passagens de idosos, deficientes físicos e estudantes do bolso dos trabalhadores rodoviários).

O que mais chamou a atenção na quinta feira passada foi o nível de organização e coragem dos grevistas. Foi impressionante ver o comprometimento das companheiras e dos companheiros com a causa de sua luta. Piquetes, que há muito não se via, foram organizados eficientemente. Chaves de ônibus sumiram, impedindo a circulação. Fura greves expulsos dos postos de trabalho. Um grande evento da verdadeira luta de classes foi visto na quinta-feira passada.

Hoje, os companheiros não diminuíram o ritmo. Mesmo com a polícia mobilizada como guarda costas dos fura greve e das empresas de ônibus, menos de 10% dos ônibus deixaram as garagens. Uma verdadeira vitória!

Manifestamos aqui todo nosso apoio à luta dos companheiros rodoviários. Apesar de não termos nenhum militante na categoria, estaremos nos mobilizando para comparecer e ajudar a construir os atos e auxiliar também no que mais for possível.

Cabe ainda ressaltar que a grande mídia é nada mais além de uma corporação criminosa. Já estamos acostumados com o seu lenga lenga, dizendo que qualquer trabalhador em greve está “atrapalhando a população”. De selecionar entrevistas nas ruas e só colocar nas reportagens os comentários tendenciosos para o seu lado. De criminalizar a mobilização e os piquetes feitos pelos trabalhadores. De exaltar a prisão dos grevistas e de nem sequer mostrar nos seus jornais as ações da polícia contra a classe trabalhadora como esta.

Fizeram isso com os garis, estão fazendo isso com os rodoviários e farão todas as vezes que a classe trabalhadora ameaçar qualquer movimento que possa ir contra seus interesses criminosos.

Suas mentiras já estão velhas. Boa parte da população já entende como é trabalhar dia após dia para um patrão sem vergonha que enriquece com o suor dos outros, vê vizinhos desaparecendo e morrendo pelas mãos da polícia, vê trabalhadores sendo expulsos de seus locais de moradia. Tudo isso, quando fortunas de bilhões de reais são investidas em obras para a Copa e Olimpíadas. Essas pessoas não baixarão mais a cabeça para seus jornais imundos. Essas pessoas entendem que piquetes são justos para defender a categoria em greve e quer dizer não cruze!! Essas pessoas estão aprendendo com os garis, motoristas, cobradoras e cobradores.

Por isso, chamamos a todos que estão cansados da mídia mentirosa, da polícia criminosa, dos patrões bandidos e do Estado dos ricos; para comparecer num ato amplo, composto pelas categorias em greve nesta Quinta-feira (15/05), 16h, na Central do Brasil. É o Dia Internacional contra a Copa!


- Todo apoio à greve dos trabalhadores e trabalhadoras do setor rodoviário!

- Atendimento integral às reivindicações dos trabalhadores: aumento salarial de 40%, reajuste do tíquete alimentação. Fim imediato da dupla função!

- Pela criação de comitês independentes de trabalhadores por empresa de ônibus para apurar os abusos das empresas de ônibus.

- Comparecer ao ato do dia 15 de Maio, na Central do Brasil, às 16h.

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segunda-feira, 12 de maio de 2014

O lugar do racismo na luta de classes brasileira. O dilema do proletariado preto. (Gas Pa, do Coletivo de Hip Hop Lutarmada)


Reproduzimos aqui esse artigo excelente do companheiro Gas Pa, do Coletivo de Hip Hop Lutarmada. É um dos melhores materiais produzidos pela esquerda no Brasil sobre a questão negra que já vimos. Nós temos algumas divergências, mas vamos elaborar melhor e fazer esse debate numa postagem futura.


O lugar do racismo na luta de classes brasileira. O dilema do proletariado preto.
O Brasil é o país com a segunda maior população preta do mundo, ficando atrás somente da Nigéria. Esse contingente afro-descendente é resultado do comércio negreiro de maior volume da história, que importou cerca de 6 milhões de africanos. O desenrolar histórico dessa república capitalista que não fez sua revolução burguesa (nos moldes clássicos) impôs à nossa luta de classes uma dinâmica diferenciada no que tange à questão racial. E essa particularidade é ainda incógnita, ou embaçada, para o olhar de quem se organiza contra a exploração e a opressão. Pra uns a luta contra o racismo é fragmentária e, por isso mesmo, retarda o nosso triunfo sobre a burguesia, e a superação do racismo seria uma consequência inevitável e automática da revolução socialista. Pra outros o racismo é a contradição central da nossa sociedade, e deve ser combatido pelas suas vítimas sem a interferência de brancos que, no geral, se apresentam para conduzir a luta preta com pseudo-soluções – euro-centradas – como o socialismo, que não passaria de mais um projeto de supremacia branca. Há também aqueles que, divergindo dos dois outros grupos, admitem que as duas frentes de luta são na verdade uma só. Mas sem entender direito o porquê, não conseguem ir além de repetir frases de ícones dessa luta, como “racismo e capitalismo são duas faces da mesma moeda” (Steve Biko), ou “não há capitalismo sem racismo” (Malcolm X). O que faremos daqui pra frente é buscar a compreensão de porque essas duas lutas estão ligadas umbilicalmente, e que, por isso, nem o capitalismo e nem o racismo serão superados se combatidos separadamente.
Apesar do consenso de que só existe uma raça – a humana – iremos debater sobre um fenômeno que tem nome, e esse nome é “racismo”. Então, falaremos o tempo todo em raça, pra não tornar o texto burocrático, e pra não sermos obrigados a recorrer a termos como etnicismo, fenotipismo, melaninismo, ou outras bizarrices ainda piores. E, como no resto do mundo, nos referiremos aos africanos e seus descendentes como pretos, deixando o termonegro somente para nos referirmos aos pretos escravizados (exceto quando tratamos das organizações do povo preto. Ex. “movimento negro”). Da mesma forma, o que a historiografia oficial chamou de tráfico negreiro, aqui daremos outro tratamento. Até a Lei Euzébio de Queiroz, em 1850, o comércio de escravos era livre, legal, o que torna incoerente a utilização da palavra “tráfico”. Por isso, todo o comércio internacional de africanos anterior a essa lei, chamaremos de “importação”.
A nossa primeira classe trabalhadora.
A primeira classe trabalhadora deste país – que nos impuseram chamar de Brasil – foi a escrava, constituída por africanos, já que a tentativa de escravizar os povos nativos havia falhado. Por tanto, a existência de pretos e do racismo no Brasil tem a ver diretamente com a escravidão. Por isso mesmo é bom fazer uma distinção. Racismo e escravidão não estão necessariamente subordinados um ao outro. Escravidão existiu em sociedades antigas como Roma e Grécia, mas não como resultado de uma suposta superioridade de uma raça sobre a outra (até porque em ambos os casos tanto escravos e senhores eram brancos). As guerras entre povos africanos também geravam escravos, mas estes eram, num certo prazo e por várias vias diferentes, integrados à sociedade à qual serviam. Além disso, sua condição humana não lhe era negada e a escravidão não era um modo de produção. A novidade trazida pelo Século XVI é que no Novo Mundo, a escravidão, já como modo de produção, era justificada na origem do escravizado, que traria a reboque uma suposta inferioridade intelectual e cultural de um povo que tinha em comum o mesmo fenótipo, numa ponta, e na outra, a superioridade do branco.
Durante três séculos o principal incômodo causado ao escravismo brasileiro era a rebeldia de sua classe escrava, que se manifestava de várias formas, indo do suicídio, passando pelo assassinato de seus senhores, resvalando nas greves [1]chegando à quilombagem – com direito a resgate de escravos nas fazendas – ou, várias dessas formas combinadas. Dentre elas, a quilombagem foi a que mais contribuiu para enfraquecer o escravismo. Cada grupo de escravos – por menor que fosse – fugido das fazendas significava prejuízo ao seu senhor que havia pagado por cada um deles. Além disso, mais dinheiro era gasto pra se remunerar as milícias e custear as incursões nas matas para capturar os fugitivos e desarticular os quilombos. Cada escravo fugido era um escravo a menos produzindo para o sistema. E, dependendo do nível de organização de um determinado quilombo, ele produzia o suficiente para comercializar com o mundo branco, concorrendo com os senhores escravocratas. E assim a quilombagem contribuiu muitíssimo para desorganizar a economia escravista, tornando-se a primeira forma expressiva de organização combativa da classe trabalhadora brasileira. E já data dessa época a prática de negar ao preto rebelde o caráter de preso político. Por mais que sua ação organizada e coletiva tenha como fim a subversão de uma ordem, o preto subversivo sempre foi relegado ao status de bandido comum.
Porém, já na metade do Século XIX a resistência dos escravos não era a única preocupação dos escravistas do Brasil. A pressão da principal potência político-militar e econômica da época, criava muitos problemas para o futuro do escravismo brasileiro. Com sua revolução industrial realizada um século antes, a Inglaterra precisava expandir seu mercado. E essa expansão é impossível para regiões onde trabalhadores não recebem salário.
 E os senhores são libertos de seus escravos.
No apagar das luzes do século XVIII a classe escrava do Haiti mostrou do que os negros eram capazes ao fazer sua revolução. Principalmente porque para isso eles tiveram que derrotar o poderoso exército napoleônico. O efeito desse importante feito – que, mesmo seguindo o rastro da Revolução Francesa não consta nos livros de história entre as grandes revoluções – foi que toda a classe senhorial do continente americano teve que começar a pensar na possibilidade de uma abolição sem o radicalismo com que ocorreu na pequena ilha caribenha. No que toca ao Brasil era importante redobrar os cuidados já que foi pra cá que o maior contingente de africanos havia sido importado desde o Século XVI. Só pra se ter uma idéia, em 1849 o Rio de Janeiro era a capital mais “africana” das Américas. O susto foi tamanho que o termo haitianismo passou a ser empregado a tudo que era considerado risco de uma rebelião escrava. A paranóia se agravou depois da Revolta dos Malês, em 1835, quando negros islamizados se valeram de seu domínio da escrita árabe para organizar, durante meses, um levante na província da Bahia.
Alguns setores da classe dominante ainda defendiam a manutenção do escravismo. Mas mesmo os que faziam campanha pela abolição foram se precavendo para que ela acontecesse sem sustos. Por isso, já a partir de 1850 legisladores começam a tomar suas providências e uma série de Projetos de Leis (PLs) foram criados no sentido da abolição gradual e controlada. Esses PLs tratavam da abolição dos castigos físicos, libertação dos filhos de mães escravas, o direito aos escravos de comprar sua alforria, libertação dos escravos pertencentes ao governo, proibição do trabalho escravo nas cidades, a proibição de se desfazer famílias de escravos no comércio interno, libertação de escravos com mais de sessenta anos… Entre outros. É desse ano tanto a primeira lei relevante abolicionista – a que proibia a importação de africanos – como a importante lei Nº 601, a Lei de Terras. Antes dela a aquisição de terras só era possível através da doação pelo Rei. Este concedia os lotes segundo alguns critérios, dentre os quais, serviços prestados à Coroa. A Lei de Terras altera essa relação que deixa de ser de concessão para ser de venda. A partir de então só seria proprietário de terra quem tivesse dinheiro pra comprá-la. Aos negros, que na África eram agricultores e aqui vieram pra trabalhar na agricultura, foi eliminada qualquer possibilidade de acesso à terra. Dinheiro pra comprar, por razões óbvias, não tinha. Agora também já não há chances de adquiri-las em função de seus serviços prestados à Coroa. Na possibilidade da libertação dos escravos, a esses o acesso às terras já estava blindado.
A queda no preço do açúcar cria grandes dificuldades para os fazendeiros do Nordeste. Quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea a província do Ceará já tinha abolido a escravidão, sendo seguida por outras. As vantagens de se pagar salários ao invés de comprar e manter escravos já apareciam com mais nitidez ante os olhos das elites brasileiras. As revoltas, as leis abolicionistas e a inviabilidade de alguns senhores manterem seus escravos, já tinham liberado a maior parte da mão de obra escrava antes de maio de 1888 (em 1887 a população brasileira passava dos 13 milhões, dos quais, pouco mais de 720 mil eram escravos). Não tardou para que os egressos das senzalas entendessem que a tal “libertação” na verdade era uma condenação à miséria. A última preocupação dessa lei foi com os negros. Tanto é verdade que a eles não foi dada nenhuma garantia de sustento, de manutenção das próprias vidas. A Lei Nº 601 impediu a aquisição de terra pelos pretos – que tantos serviços prestaram à Coroa – mas garantiu lotes para algumas famílias de europeus que imigravam pra cá à custa de fundos arrecadados pela venda dessas terras. Para se importar 6 milhões de africanos, foi preciso mais de trezentos anos. Mas bastaram algumas décadas entre o fim do Século XIX e o começo do XX para que cerca de quatro milhões de trabalhadores europeus entrassem no Brasil.
Com tanta gente liberada das senzalas, pra que trazer trabalhadores da Europa? Uma boa parte da nossa esquerda se esforça pra negar que tenha sido por racismo, mas o faz, até agora, com argumentos frágeis. Uma política de branqueamento do país entrou em curso a partir da segunda metade do século XIX. E foi essa mentalidade também que deu mais fôlego à campanha abolicionista, que refletiu o desejo de muitos brancos de se livrarem da “mancha negra”, dessa marca do atraso do país.
 Política de embranquecimento.
Alguns “materialistas” afirmam que essa sangria de trabalhadores europeus pra cá, ao invés de motivações racistas, se deveu ao fato de que mesmo lenta, a industrialização brasileira carecia do emprego de trabalhadores já habituados a lidar com o maquinário fabril. Só que a maior parte dos imigrantes não veio para trabalhar na indústria. Além disso, devemos considerar a reorganização da produção. Os artesãos transformados em trabalhadores assalariados dominavam o conhecimento de todas as fases do processo produtivo. Suas habilidades eram imprescindíveis ao patrão. Mas com a divisão do processo em várias operações distintas, e com um operário realizando cada uma delas, o aprendizado de cada tarefa se torna bem mais breve. Muito mais ainda com a introdução da máquina que veio dispensar as habilidades específicas do antigo artesão. Assim sendo, capacitar a força de trabalho liberada da escravidão seria bem mais plausível do que importar trabalhadores da Europa. Mas não para por aí. Para os africanos que aqui chegavam, os horrores do escravismo eram uma aberração nunca vista antes. Para eles rebelar-se era uma necessidade imperativa. Mas muitos dos escravos do ultimo período do Império nasceram no Brasil escravista e não tinham vivenciado a liberdade ainda. Para esses, o cativeiro era muito mais fácil de ser assimilado. Desde 1850 o parlamento produzia, debatia e aprovava leis abolicionistas. Isso criava nesses negros uma expectativa de serem libertados a qualquer momento por vias legais. Para isso as elites deliberantes não poderiam se sentir ameaçadas. Do contrário, a liberdade dos negros é que correria perigo. Não foi a toa que esses anos que se seguiram de 1850 até 1888 não registraram grandes rebeliões, ao contrário dos anteriores. O mesmo não se podia dizer dos europeus que vieram. Uma parte deles já atuava no movimento sindical de seus países e já havia criado muito problema para seus burgueses. Pra que então trocar o novo comportamento mais brando que vinha se verificando entre os negros pela já conhecida rebeldia dos trabalhadores do Velho Mundo? Atribui-se também essa política imigrantista à idéia de que para modernizar o Brasil era necessário romper os vínculos com o anacronismo da escravidão. E de fato o país estava tão atrasado que enquanto aqui ainda se discutia se libertava ou não os filhos de mães escravas, em Paris a classe operária já tomava o poder da burguesia. Ora, o Brasil foi condenado ao atraso por ter sido o ultimo país no mundo a abolir a escravidão. O negro era o principal e mais combativo inimigo desse modo de produção defendido pelo branco com todas as armas possíveis e necessárias. Assim sendo, era a classe dominante branca a responsável por esse atraso que, na decadência do modo de produção escravista, era diretamente vinculado à figura do negro. Que nome damos a isso se não racismo? Lembremos que uma das funções da ideologia é naturalizar o que não é natural, alguma situação de exploração e opressão construída pela própria humanidade no decorrer de sua história. Trezentos anos de dominação senhorial são mais do que suficientes para naturalizar a “inferioridade do negro”. Mesmo movida por razões econômicas, a classe dominante não está isenta de ver o mundo distorcido pela ideologia que ela mesma criou e alimenta. Aliás, é pra isso que existe a ideologia. [2]Então, a política de imigração foi sim uma política racista. É importante sermos materialistas, ainda mais se também formos históricos e dialéticos.
Definitivamente o povo preto estava descartado dos planos da república que nascia em 1889. Em 1911 o Brasil envia para o Congresso Universal das Raças, em Londres, o médico João Batista Lacerda que, preconizando uma superioridade da raça branca, previu a extinção do preto no Brasil até o ano 2012. Sendo a preta uma raça mais fraca, no processo de miscigenação, já em curso desde o escravismo, um século bastaria para que a raça branca prevalecesse absoluta. Assim explicou João:
“A seleção sexual contínua aperfeiçoa sempre ao subjugar o atavismo e purga os descendentes de mestiços de todos os traços característicos do negro. Graças a este procedimento de redução étnica, é lógico supor que, no espaço de um novo século, os mestiços desaparecerão do Brasil, fato que coincidirá com a extinção paralela da raça negra entre nós”
E segue a profecia:
“A população mista do Brasil deverá então ter, dentro de um século, um aspecto bem diferente do atual. As correntes de imigração européia, que aumentam a cada dia e em maior grau o elemento branco desta população, terminarão, ao fim de certo tempo, por sufocar os elementos dentro dos quais poderiam persistir ainda alguns traços do negro.”
A miscigenação sozinha não daria conta de tal façanha. Então nosso intelectual discorre sobre outros aspectos que nos levaria a essa “purificação” racial no país mais preto fora da África:
“Depois da abolição, o negro entregue a ele próprio começou por sair dos grandes centros civilizados, sem procurar melhorar, no entanto sua posição social, fugindo do movimento e do progresso ao qual não poderia se adaptar. Vivendo uma existência quase selvagem, sujeito a todas as causas de destruição, sem recursos suficientes para se manter, refratário a qualquer disciplina que seja, o negro se propaga pelas regiões pouco povoadas e tende a desaparecer de nosso território, como uma raça destinada à vida selvagem e rebelde à civilização.”
O interessante dessas últimas linhas é que, assim como se atribuiu ao ex-escravo o atraso do país resultante do escravismo mantido pelo branco, agora, de novo, o preto é responsabilizado por sua própria marginalização. Não foi que as portas do novo modo de produção lhes foram fechadas em favor do embranquecimento do Brasil que priorizou importação de força de trabalho européia. Ao invés disso, afirma o pseudo-cientista, o povo preto que, “sem procurar melhorar sua posição social”, optou por “uma existência quase selvagem, sujeito a todas as causas de destruição, sem recursos suficientes para se manter”
Já prestes a encerrar sua comunicação científica, um quase clamor:
“Suas [do Brasil] questões limítrofes estão resolvidas, e as leis votadas ultimamente em favor da imigração, a fim de assegurar os direitos dos estrangeiros diante dos tribunais da nação, são as melhores garantias dos capitais estrangeiros empregados nos trabalhos de utilidade nacional. Pode-se, portanto afirmar, sem medo de faltar à verdade, que o Brasil está pronto, nesse momento, para acolher em seu vasto seio o êxodo dos povos europeus.
Eles descobrirão, como fim à sua atividade, e para constituir a base da riqueza de suas famílias, as grandes culturas de café, de cana-de-açúcar, de cacau, a exploração de borracha, a cultura de frutas tropicais, da videira e do trigo, as indústrias de fabricações diversas, a cultura do bicho-da-seda, a exploração de minerais, a criação dos rebanhos de bois e cavalos, a indústria leiteira etc., fonte de riquezas as quais as leis do país prestam ainda mais seguros e assistência, pela concessão de terras e pela promessa de garantia em dinheiro.”
A participação do médico racista nesse encontro foi patrocinada pelo presidente marechal Hermes da Fonseca. O embranquecimento do Brasil não era uma teoria, mas sim um projeto.
Racismo. Um bom negócio.
A transição escravismo/capitalismo ao invés de uma ruptura revolucionária, fez manter de pé a hegemonia da oligarquia agrária. E essa hegemonia perdurou até a década de 1930. Só então, com a chamada Revolução de 30, se põe fim à “farra do café com leite” e os caminhos se abrem para a burguesia industrial, para a consolidação do capitalismo no Brasil. E isso vai mudar a cara do racismo brasileiro.
Para o capital a função do exército industrial de reserva é manter sempre favorável ao patrão a lei de oferta e procura da mercadoria força de trabalho. Mas o que acontece quando uma enorme massa encontra-se alijada até desse exército, e que nem na reserva está? Pois bem. Para além da delinquência e de outros recursos que não nos interessa agora, há poucas alternativas. Duas delas são disputar no mercado de trabalho aquelas funções de menores prestígio e remuneração, ou exercer as mesmas funções que os trabalhadores brancos, mas por um salário menor.[3] Ora. Já vimos que essa nova república que pretende se modernizar quer fazê-lo livre da presença repugnante do povo preto, cuja figura remete imediatamente ao atraso. Vimos que a situação de miséria à qual os pretos foram relegados era tão intensa que cientistas previam que essa raça não resistiria mais que um século a tamanhas adversidades. A existência contínua de uma grande e determinada parcela do proletariado que por tais condições é obrigada a vender sua força de trabalho por um preço abaixo do praticado com os trabalhadores brancos – quase que exclusivos no mercado – faz constante pressão pra baixo nos salários gerais. O trabalhador branco vive entre o baixo salário e a ameaça de ser substituído por um outro trabalhador disposto a ganhar menos do que ele. Se a razão de ser do capitalismo é cada vez maiores lucros, então o racismo não se encaixa perfeitamente aos seus objetivos? Pois é. Por mais que as esquerdas não tenham notado isso até hoje, para o capital não passou despercebido. E ele se utiliza do racismo para se fortalecer cada vez mais. Isso no campo econômico, mas e no político? A manutenção do racismo acirra disputas que não deveriam existir no interior da classe, deixando-a dividida (isso sim fragmenta a nossa classe), dificultando a identificação e ação unitária contra o inimigo comum.
 democracia racial.
Um cenário como este não é compatível com a política de embranquecimento do país. Como as classes dominantes vão deixar que se extinga uma parcela da população que é peça fundamental de um mecanismo que fortalece sua dominação? Não foi a toa que na década de 1930 surgiu a farsa da democracia racial, que vinha substituir a política de embranquecimento[4]. A democracia racial deriva de uma corrente de pensamento que pretendeu vender ao mundo a imagem de perfeita harmonia na relação entre as raças no Brasil. Na base dessa invenção há o argumento de que, ao contrário da América protestante, a América católica era mais benevolente com seus escravos, permitindo uma convivência tão íntima que possibilitou que as raças se misturassem, miscigenando como em nenhum outro canto do mundo[5]. Portanto, num ambiente como esse, o racismo não encontraria terreno. A partir daí o Brasil passa a configurar como laboratório de relações raciais para o mundo. Todas as raças teriam iguais oportunidades, sendo de responsabilidade única de cada indivíduo seu sucesso ou o fracasso, não importando seu fenótipo. De acordo com essa ideologia a barreira entre o preto e sua dignidade seria o próprio preto. Tal farsa ecoou pelo exterior a ponto de a Unesco patrocinar uma pesquisa cujo resultado deveria servir de manual prático das boas relações raciais para o mundo. Assinado por Florestan Fernandes, Otavio Ianni, Fernando Henrique Cardoso e Roger Bastide, o estudo desvelou a verdadeira face racista do Brasil, contrariando a propaganda que se fazia das nossas “boas relações raciais”. Só que a pesquisa repercutiu muito menos do que a falácia que ela desmentiu. E assim o mito da democracia racial sobrevive até hoje, resistindo às estatísticas que são divulgadas anualmente no dia 20 de novembro, quando se evidencia o abismo que separa o “Brasil preto” do “Brasil branco” [6].
Opor a “América católica” a “América protestante”, dentro desse contexto, é opor Brasil aos EUA. Os defensores da falácia da democracia racial gostam dessa comparação por serem os Estados Unidos um país onde a legislação segregou pretos e brancos até a década de 1960. Na vigência dessas leis o preto estadunidense precisou criar seus próprios espaços de sociabilidade, assim como se submeter a outros que o Estado lhe reservava. Eram escolas pra pretos, igrejas pra pretos, clubes pra pretos, bebedouros pra pretos, bairros pra pretos, etc pra pretos. Essa segregação escancarada permitiu ao preto de lá preservar e fortalecer sua identidade racial. Isso propiciou uma unidade na luta que lhes proporcionou conquistas e avanços[7]. Aqui, com o racismo fantasiado de democracia racial, onde a segregação não tem respaldo jurídico, ele incide com muito mais força e eficácia na informalidade. O racismo brasileiro esconde o antes, o durante, e maquia o depois do seu processo, de forma que nem suas vítimas conseguem perceber que sua condição de precariedade – que atinge a um percentual maior da sua população e com maior intensidade que ao proletariado branco – tem ligação direta com algumas características físicas que elas herdaram de seus antepassados escravizados. E um dos fatores que dificultam essa percepção é justamente aquele que serviu de base pros defensores da democracia racial: A miscigenação. Ela fez da população brasileira um povo de muitas cores. E se nos EUA preto é preto e branco é branco, aqui essa diversidade responde por uma hierarquização cromática que coloca em pólos opostos o branco e o preto, mudando o tratamento que a sociedade vai dar aos indivíduos de acordo com a proximidade que cada qual tem com um dos pólos. Se o que a sociedade tem de pior está reservado pra quem tem a pele mais escura, logo, na medida em que a pessoa se distancia dessa tonalidade, menos incide nela a discriminação que se funda na origem racial. Mecanismos sociais simbólicos têm sido usados como recurso de fuga dessa realidade tão adversa. Por exemplo, no recenseamento de 1980, quando os pesquisadores do IBGE perguntavam pela cor, os entrevistados respondiam com muitos subterfúgios, que iam do “bege”, passando pelo “cinza”, resvalando no “morena bem chegada” indo até o “roxa”, totalizando 136 cores diferentes (e bem bizarras). Essa pesquisa mostra que miscigenação não iguala ninguém. Ao contrário, cria uma hierarquia que não tem mais tamanho. Se vivêssemos de fato numa democracia racial não haveria necessidade de ninguém querer escamotear sua verdadeira identidade buscando se aproximar o máximo possível de um modelo entendido como o certo, o belo, o limpo, o puro, o honesto, o inteligente… Em fim, o padrão (branco). E o pior de tudo é que, como são simbólicos, esses subterfúgios surtem pouco efeito na relação com o opressor, pois para o departamento pessoal das empresas, pro cano do fuzil do policial, pro elevador de serviço, pro poder judiciário, pro sistema penitenciário, etc., não existe “bege”, “melada”, “fogoió”, “cor de ouro”, “morena bem chegada”… Não. É tudo preto.
Se a oposição que fazemos ao Projeto Democrático Popular (e à sua variante, o Projeto Popular para o Brasil) nos impõe uma postura crítica à exaltação das identidades, a luta socialista, dialeticamente, nos exige batalhar pela aquisição e afirmação da identidade do proletário preto. Numa sociedade dividida em classes e com uma classe subalterna dividida em raças, a identidade racial é uma identidade grupal, que por sua vez é precondição para superação da alienação. Assim diz o professor da UFRJ, Mauro Iasi, no seu trabalhoEnsaios sobre consciência e emancipação:
“Quando uma pessoa vive uma injustiça solitariamente, tende à revolta, mas em certas circunstâncias pode ver em outra pessoa sua própria contradição. Esse também é um mecanismo de identificação da primeira forma [de consciência], mas aqui a identidade com o outro produz um salto de qualidade.”
Mas como um afro-descendente vai ver num outro preto a sua própria contradição se ele nem se vê como tal, mas sim como um “fogoió”, um “cinza”, um “marrom bombom”, um “moreninho”, um “pardinho”, um “melado”…?[8] Num país com o histórico que o Brasil tem nas suas relações raciais, a luta contra o racismo perpassa por uma batalha extremamente árdua pela identidade racial. Identidade de um determinado grupo de pessoas que se assemelham em determinados traços físicos que lhes inferioriza perante o outro grupo que guarda as características físicas da classe dominante. E se o grupo é precondição para a superação da alienação rumo à consciência de classe para si, negligenciar a luta contra o racismo no país com o racismo mais eficaz do mundo, é frear o avanço da luta proletária contra o capital.
Conceitos como mais-valia, valor de uso, valor de troca, capital constante, capital variável, entre outros necessários para um entendimento básico de economia política ainda são caros às massas. São relações vividas cotidianamente por quem produz a riqueza desse país, mas impossível de serem vistas a “olhos nus”. Porém, a companhia indesejável dos seguranças dos shoppings e lojas de departamento; a demora pra ser atendido nesses mesmos espaços, assim como em restaurantes; a sua cor como sinônimo de ruim, feio, perigoso, sujo, sombrio, lúgubre, malévolo, impuro, etc.; as constantes revistas policiais e, nelas ter que fingir que é inocente mesmo sendo inocente; as piadas – nada inocentes, diga-se de passagem – referentes aos traços físicos; a maior precariedade no acesso à saúde[9]; o desemprego ou o trabalho precarizado; a baixa escolaridade… São todos incômodos sentidos na pele no dia-a-dia do trabalhador preto, mesmo que ele não perceba que há algo em comum entre ele e a grande maioria das vítimas dessas mazelas. Na ausência de uma esquerda que discuta e atue seriamente na questão racial com um recorte de classe, esses trabalhadores seguem na inércia política. E essa pode ser a melhor das hipóteses. Pior ainda é quando aos poucos eles vão sendo cooptados por um setor do Movimento Negro que nega a luta de classes e que prega contra o comunismo alegando que ele é uma proposta de luta eurocêntrica, que desconsidera o ethos negro, e que no fim das contas, não passa de mais um projeto de dominação branca. Além disso, acusam os militantes dos movimentos e partidos de esquerda de serem racistas – acusação que procede em muitos casos.
O racismo é uma das manifestações da luta de classes. Portanto, podemos afirmar que a luta anti-racismo não fragmenta a luta proletária. Mas, ao contrário, fragmentamos o proletariado quando deixamos de incorporar efetivamente a luta anti-racismo, pois assim deixamos de trazer pras nossas trincheiras parte da parcela maior da nossa classe. E ainda corremos o risco de empurrar muitos trabalhadores pretos pra dentro de organizações que atuam no sentido de integrá-los na sociedade burguesa, inverter os pólos de opressão e exploração, e que elegeram a nós comunistas inimigos preferenciais.
 O racismo da nossa esquerda.
“Muitos são racistas e dizem não ser
Talvez você seja mesmo sem você saber”
Consciência Urbana
Somos uma ilha de democracia racial, cercada de racistas por todos os lados. O preconceito é tão abominável que até os preconceituosos o condenam (pelo menos teoricamente). Uma pesquisa organizada pela antropóloga Lilia Moritz Schwarcz perguntou aos entrevistados se “você tem preconceito?”. A essa pergunta 96% responderam que não. Agora é que vem o absurdo. A segunda pergunta era: “Você conhece alguém que tenha preconceito?”. Curiosamente 99% das pessoas responderam que sim (!). O preconceito – e no caso do objeto do nosso debate, o racismo – é sempre um defeito “do outro”, mas nunca “meu”.
Como já foi dito antes, uma das funções da ideologia é naturalizar a opressão e a exploração. Como somos formados dentro de uma sociedade racista é quase inevitável a reprodução de atitudes e discursos racistas, sem que eles sejam percebidos como tal. Assim sendo, o racismo é praticado por inúmeros militantes que o condenam. Combater o racismo não pode ser entendido simplesmente como reconhecer sua existência, se posicionar contra ele e exibir como troféu um preto que ocupe cargo de direção dentro do seu partido, sindicato, movimento ou instrumento de organização e luta da nossa classe.
Para essas pessoas um importante primeiro passo é reconhecer – sem culpa – os privilégios que a sociedade lhes reserva, com relação à parcela preta do proletariado. Pra quem se enxerga no cume da consciência revolucionária, isso vai parecer constrangedor. Porém, pra quem deseja sinceramente a superação de uma sociedade que explora/oprime, esse é um movimento necessário. É catártico. É libertador. Reconhecidos esses privilégios, eles podem, inclusive, serem colocados a serviço do fim dos próprios privilégios. Basta o comprometimento com a luta revolucionária.
A simbologia é um campo também fértil para o nosso debate. A esquerda não abre mão de vestir vermelho, por exemplo, sendo fiel a uma simbologia própria da nossa luta. Assim é também com o hino d’A Internacional (cada vez menos freqüente nos nossos espaços, é verdade), e também com um linguajar que é comum somente no nosso meio. Isso prova que não estamos, em setor algum da nossa sociedade, imune ao poder dos símbolos. Porém, se tratando das palavras – sejam elas faladas ou escritas – no nosso meio muitas vezes vêm carregadas de conteúdo racista. O problema é que a ideologia dominante tratou de naturalizar essas expressões de tal forma que seu potencial ofensivo é artificialmente minimizado. Não podemos perder de vista que a violência simbólica é a que antecede e justifica a violência física. A violência com a qual a mídia burguesa trata as favelas prepara o terreno para a violência física do Estado nessas comunidades. Ela produz nos moradores “do asfalto” um alto nível de aprovação das operações policiais que aniquilam favelados – pretos, em sua maioria. Do mesmo modo a violência simbólica das expressões, dos termos, das piadas racistas, reforça a naturalização de uma inferioridade que legitima a violência física praticada contra o proletário preto. Por isso em pesquisa recente 55,8% dos entrevistados afirmaram que a morte de jovens “negros” choca menos do que a de jovens brancos. São números que refletem situações já conhecidas, como a do jovem preto, acusado de roubo, espancado e preso pelo pescoço a um poste – como seus antepassados escravos presos no pelourinho – na mesma capital onde um jovem branco que passa com seu carro importando por cima de um ciclista preto, matando-o, é condenado a prestar dois anos de serviços comunitários.
É provável que os companheiros brancos se surpreendam e se incomodem com as queixas dos militantes pretos com relação às práticas racistas verificadas nos espaços comuns de militância. Onde a questão racial não é devidamente discutida é perfeitamente compreensível tanto as denúncias feitas pelos pretos quanto o incômodo dos brancos com as denúncias. Essa é a hora em que o companheirismo deve prevalecer, assim como a confiança política dos militantes brancos naqueles companheiros que sentem na pele os efeitos nocivos de todo o preconceito produzido e propagado contra os africanos e descendentes nesses 500 anos de história.
Materialistas que somos, não cremos na superação do racismo simplesmente monitorando as palavras usadas no nosso cotidiano. Mas como nossa luta também se dá no campo das ideias (caso contrário não perderíamos tempo com cursos de formação política, e produzindo material de propaganda), é prudente ser vigilante com as próprias palavras pra não reproduzir o discurso racial da classe dominante, poupando o companheiro preto que poderá canalizar suas energias militantes somente contra o inimigo comum.
Sem teoria revolucionária não há ação revolucionária, dizia o camarada Lenin. Por isso os estudos são tarefa imperativa para melhor qualificar a luta contra o capital. Porém, é mister compreender o tempo do revolucionário preto no cumprimento dessa tarefa. Por uma nítida opção, aos brancos basta a produção teórica de seus pares. Mas, além de se apropriar das mesmas fontes que os camaradas brancos, aos pretos é necessária ainda a apreensão do que já foi produzido pelos autores da diáspora africana. E como na maioria das vezes essa produção teórica dos pretos não leva em consideração o fator “classe”, ainda recai sobre o militante preto produzir combinando esses vários legados. Mas não termina aí. Aos militantes pretos cabe ainda a tarefa de ler o que setores do Movimento Negro escrevem contra o marxismo, pra poder tecer a crítica sobre essas obras. Não é fácil!
Dado o quadro das relações entre as raças no Brasil, o simples fato de desestimular o debate, os estudos e a ação sobre as questões específicas do proletário preto, já se configura em postura racista. É importante a compreensão de que, com base em tudo que foi escrito acima, o fortalecimento da identidade preta, quando conduzido por quem está comprometido com o socialismo, ao contrário de enfraquecer, só fortalece a identidade de classe. Por isso é importante evitar o paternalismo e, ao mesmo tempo, entender que a formação de núcleos de militantes pretos em nossos partidos, instrumentos e movimentos não significa a construção de guetos internos. Ao invés disso, é certo enxergá-los como espaços de elaboração de táticas que, considerando nossas especificidades na luta de classes, buscará uma maior adesão da população preta proletária, com um nível de comprometimento e de consciência revolucionária cada vez maior.
Cada vez mais vermelho, sem deixar de ser preto,                                                        Gas-PA
09-03-2014
[1] Mesmo antes da chegada dos imigrantes, os negros já realizavam seus movimentos paredistas.
[2] “Até agora os homens formaram sempre ideias falsas sobre si mesmos, sobre aquilo que são ou deveriam ser (…). Os filhos de suas cabeças cresceram-lhes acima da cabeça. Curvaram-se, eles que são os criadores, diante das suas criaturas.” (Marx e Engels, no prefácio de A Ideologia Alemã.)
[3] Ainda hoje a diferença entre o salário do trabalhador branco para o trabalhador preto orbita entre os 45%
[4] Isso não significa que estejamos, por exemplo, negando um processo de extermínio da população preta (de acordo com Karl Marx nenhuma transformação social ocorre sem que as forças produtivas se desenvolvam a ponto de se chocarem com as relações de produção existentes. Quando isso acontece apresenta-se um período revolucionário. Para tentar impedir a revolução, cabe à classe dominante barrar a evolução das forças produtivas, destruindo-as. Segundo a socióloga Vera Malaguti Batista estima-se que 20% da força de trabalho hoje existente deem conta de mover a economia no mundo. Os 80% restante são um percentual exagerado pra ser comportado dentro do exército industrial de reserva. Então, o que fazer com o que sobra? Pesquisa divulgada em 2013 revela que aqui se mata 139% a mais de pretos do que de pessoas brancas. No Brasil coube ao afro descendente o papel de excedente do exército industrial de reserva. A força de trabalho preta é parte significativa das forças produtivas que o inimigo aniquila para impedir o choque delas com as relações de produção capitalista). O que negamos, então, é que qualquer política racista corrente tenha como finalidade a extinção do preto no Brasil capitalista, assim como o Brasil escravista não podia abrir mão de seus negros, ainda que os massacrasse.
[5] A partir de 1908 essa miscigenação ganha mais um elemento com a imigração japonesa.
[6] Em 2005 o Brasil era o 63º no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Analisando dados de então, o economista Marcelo Paixão revelou que se dividíssemos o Brasil em dois, um preto e um branco, e comparássemos ambos os IDHs com os dos outros países, o Brasil branco subiria para 47ª posição, enquanto o Brasil preto cairia para 92º.
[7] Vejamo o que diz Darcy Ribeiro, no seu clássico O povo brasileiro: ´´É preciso reconhecer, entretanto, que o apartheid tem conteúdos de tolerância que aqui se ignora. Quem afasta o alterno (diferente) e o põe à distância maior possível, admite que ele conserve, lá longe, sua identidade, continuando a ser ele mesmo. Em consequência, induz à profunda solidariedade interna do grupo discriminado, o que o capacita a lutar claramente por seus direitos sem admitir paternalismos.´´
[8] Ainda no mesmo parágrafo da obra citada na nota anterior: ´´Nas conjunturas assimilacionistas, ao contrário, se dilui a negritude numa vasta escala de graduações, que quebra s solidariedade, reduz a combatividade (…)´´. (Só para ilustrar, o então jogador Ronaldo (fenômeno), em entrevista sobre o racismo na Europa, disse que até ele que não é negro (sic) se sente profundamente incomodado e solidário ao problema de seus companheiros vítimas do preconceito racial. Tal declaração foi condenada publicamente por seu pai, um “negro” assumido.)
[9] Por exemplo, pesquisa da Fiocruz que entrevistou 10 mil mulheres, conclui que 11,1% das pretas não receberam anestesia no parto. Mais que o dobre do percentual de mulheres brancas (5,1%)

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quinta-feira, 1 de maio de 2014

[ADIADO] Lançamento do nosso novo livreto, "Descolonização e Revolução Permanente na África"!


O Coletivo Lênin tem o orgulho de lançar o livreto "Descolonização e Revolução Permanente na África", falando de um tema que quase nunca é abordado na esquerda, as lutas revolucionárias dos povos africanos.

A versão provisória do livreto está nesse link, nós ainda vamos fazer algumas mudanças na editoração, mas o texto já é o definitivo.

O lançamento vai ser dia 13/05 (terça-feira), no IFCS da UFRJ, às 14h.

Participe!

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Estamos mudando a data do evento anunciado acima, pois neste momento os trabalhadores rodoviários do Rio de Janeiro estão em greve!!
Dessa forma, as pessoas talvez encontrassem dificuldades para chegar.

É importante dizer que isso não é motivo de tristeza. Toda luta da classe trabalhadora contra quem a oprime é justíssima. Estamos juntos com os companheiros rodoviários para ajudar no que for possível.
Força, camaradas!

Colocaremos um novo post no blog, assim que decidirmos uma nova data e horário.
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