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Somos uma organização marxista revolucionária. Procuramos intervir nas lutas de classes com um programa anticapitalista, com o objetivo de criar o Partido Revolucionário dos Trabalhadores, a seção brasileira de uma nova Internacional Revolucionária. Só com um partido revolucionário, composto em sua maioria por mulheres e negros, é possível lutar pelo governo direto dos trabalhadores, como forma de abrir caminho até o socialismo.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Balanço do ato contra o aumento das passagens em Porto Alegre, no dia 27/03 (Clóvis Oliveira)


Reproduzimos aqui o texto do companheiro Clóvis Oliveira, que esteve no ato.


Os estudantes saíram para as ruas no 27 de março: Uma luta justa, necessária e valorosa

            Este é um relato da manifestação estudantil contra o aumento das passagens de ônibus, que testemunhei no 27/3/2013. Foi uma presença casual, porque naquele momento estava no Centro de Porto Alegre, terminando de participar de uma plenária da Conferência Nacional de Educação realizada na SMED. Juntamente com outros professores, acabei acompanhando a manifestação. Do que eu vi, da força que senti naquele ato público, da sua massividade, me vieram vivas lembranças das passeatas de 1968 e 1969 contra a ditadura militar.

            Os estudantes fizeram uma grande manifestação no dia 27 de março, contra o aumento nas passagens de ônibus, o fim da meia passagem estudantil e da gratuidade para idosos, que contou seguramente com mais de mil participantes, e que iniciou às 18h30 no Largo da Prefeitura, transcorrendo pela Borges de Medeiros, Perimetral e João Pessoa, indo terminar às 22h no Palácio da Polícia, onde os manifestantes exigiram e lograram a libertação da dirigente do DCE/UFRGS, que ali estava detida, depois de ter sido presa e algemada na Prefeitura pela Guarda Municipal.

            A passeata estudantil, mas principalmente as medidas tomadas pela EPTC e Brigada Militar para controlar o trânsito e os manifestantes, causaram um enorme engarrafamento de automóveis e ônibus nas ruas de Porto Alegre, que entrou noite a dentro, capaz de deixar ninguém indiferente. 

            Uma manifestação desta relevância resultou de um acúmulo de forças feito pelos estudantes, principalmente no dia anterior, quando fizeram atos públicos em frente à PUC, UFRGS e Colégio Julio de Castilhos.   A manifestação estudantil foi tão forte e contundente, que deve estar a refletir um descontentamento profundo da população contra o aumento das passagens e a má qualidade do transporte público ora existente na cidade.

            As formas de luta empregadas foram radicais. O prédio da Prefeitura Municipal foi atacado com paus de bandeira, bolinhas de gude e tinta, que produziram danos de pouca monta (evidentemente exagerados pelas autoridades), principalmente nas vidraças do térreo. Além disso, houve uma tentativa de invasão do prédio por alguns estudantes. Um Vereador de Porto Alegre afirmou que se os estudantes tivessem conseguido entrar na Prefeitura, teriam assassinado os que lá estavam. Ridículo!  

            Também foram radicais as pichações feitas em dezenas de ônibus que ficaram trancados pela manifestação na Borges de Medeiros, muitos deles dirigidos por motoristas solidários com o movimento, porque a categoria está em uma intensa campanha salarial.

            A expressão "baderna" que está sendo empregada pelas autoridades municipais, por vereadores de extrema direita e pela imprensa, e que lembra a forma como a ditadura militar (1964/1985) chamava as manifestações públicas sindicais e populares, é completamente improcedente. Tratou-se de um movimento estudantil muito forte, que expressou a insatisfação popular.

            Para entender melhor a radicalização do movimento é preciso considerar algumas circunstâncias. O Secretário Cesar Busatto fez uma provocação aos estudantes ao se postar na escada externa da Prefeitura e acabou recebendo um banho de tinta (contraditando o vereador que disse que os estudantes matariam gente dentro da Prefeitura, ninguém foi morto nem mesmo na porta do prédio).           

            Outra circunstância é o uso que os integrantes da Guarda Municipal que são postados na porta da Prefeitura estão fazendo das pistolas de choque e cassetetes. Tem empregado essas armas com frequência contra os estudantes, assumindo cada vez mais um papel repressivo aos movimentos sociais. Estão sendo desvirtuados das suas funções pelo Governo Municipal.

            A Brigada Militar também não fugiu a regra da repressão. Atiraram as suas granadas de gás anti-povo, cinicamente chamadas de efeito moral, exatamente depois do confronto na porta da Prefeitura, quando os estudantes estavam todos sentados no chão do Paço Municipal, voltados para o Mercado Público, com os ânimos serenados e sem nenhuma atitude agressiva. Vários foram os feridos.

            A RBS também contribuiu para a radicalização do movimento quando, nos dias anteriores, juntamente com os empresários dos transportes urbanos e a Prefeitura |Municipal abriu fogo contra o interesse popular, através de uma campanha contra as passagens gratuitas dos idosos e a meia passagem estudantil. Frente única com objetivos mais reacionários e provocadores é impossível. Os estudantes estão reagindo na hora certa para defender os seus direitos e conquistas.

            As atitudes dos estudantes foram justificadas, porque exercidas em nome de uma causa popular e progressista, e através de um movimento muito forte e representativo, bem distinto dos pequenos grupos de algumas situações anteriores. Existe agora uma força social real respaldando e legitimando o movimento estudantil, que tem a sua origem na população insatisfeita com o transporte público. Os estudantes ganharam  apoio popular nas ruas e nas janelas dos prédios das avenidas Borges de Medeiros e João Pessoa, durante todo o trajeto da passeata.

            Na manifestação estavam jovens anarquistas da Utopia e Luta, do PSOL, do PSTU e do PT. Não sabemos identificar quem efetivamente foi a direção do movimento, se é que isto existiu, tamanho era o grau de espontaneidade existente, mas  estão erradas aquelas correntes que são contra a presença de bandeiras dos partidos, tolhendo assim a liberdade de expressão e a própria transparência política, e quem criticou a forma radicalizada que foi assumida pela manifestação. Existem situações em que a radicalização é necessária, e aquela era uma destas horas. Os estudantes fizeram muito bem.

            O governo Fortunatti está tentando isolar o movimento estudantil com a acusação de "baderna", e a tentativa de criminalizá-los que está em andamento, mas não conseguirá deter a luta estudantil, porque o movimento não está isolado, pelo contrário, está com a moral alta, própria de quem conseguiu fazer uma manifestação bem sucedida.

            O movimento estudantil irá novamente para a rua, e em maior número, no dia 1º de abril, a próxima 2ª feira, às 18h, quando ocorrerá uma nova manifestação no Paço Municipal de Porto Alegre.

            Lá também deverá ser o nosso lugar, em solidariedade aos estudantes e à luta contra o aumento da passagem escolar e a tentativa de acabar com a meia passagem para estudantes e a gratuidade para os idosos.

            Em 31/3/2013

            Clovis Oliveira (Professor de História e associado do CPERS)

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