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Somos uma organização marxista revolucionária. Procuramos intervir nas lutas de classes com um programa anticapitalista, com o objetivo de criar o Partido Revolucionário dos Trabalhadores, a seção brasileira de uma nova Internacional Revolucionária. Só com um partido revolucionário, composto em sua maioria por mulheres e negros, é possível lutar pelo governo direto dos trabalhadores, como forma de abrir caminho até o socialismo.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Quem é negro no Brasil?



Identidade
Jorge Aragão



Elevador é quase um templo
Exemplo pra minar teu sono
Sai desse compromisso
Não vai no de serviço
Se o social tem dono, não vai...
Quem cede a vez não quer vitória
Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história
(2x)
Se o preto de alma branca pra você
É o exemplo da dignidade
Não nos ajuda, só nos faz sofrer
Nem resgata nossa identidade




Quem é negro no Brasil?


Um dos argumentos mais tradicionais da direita contra a própria existência do movimento negro é o de que, no Brasil, não existem raças, e que todo o debate sobre o racismo é "importado" dos EUA, onde realmente existe uma divisão racial. Ao mesmo tempo, alguns setores do movimento negro usam a lógica que a gente poderia dar o apelido de "passou de branco é preto", caindo na armadilha dos setores de direita, já que a grande maioria das pessoas que "passaram de branco" não se reconhecem como negras. Isso faz essas pessoas (talvez 30% da população do Brasil, segundo o IBGE) acharem que o movimento negro está totalmente fora da realidade do país. Esse tipo de argumento é constantemente usado para atacar as cotas, e todas as formas de luta contra o racismo.

Para nós, do Coletivo Lênin, o racismo tem um papel fundamental para a manutenção do capitalismo no Brasil. A superexploração e o preconceito contra os negros divide os trabalhadores, deixando mais fácil que todos eles sejam mais explorados ao mesmo tempo. A resposta à questão de como definir quem é negro no Brasil é essencial para entendermos o papel do racismo no país.

E, na verdade, o critério do "passou de branco é preto" é a "tradução" do critério americano de "uma gota de sangue". Nos EUA, em que existiu uma segregação legal dos negros, com proibição de casamentos interraciais até a década de 1960, o que definia alguma pessoa como negra era a sua linhagem. Nos EUA, portanto, a questão negra é étnica, acima de tudo.

No Brasil é completamente diferente, por dois motivos. O primeiro é que os negros nunca foram uma pequena minoria, como nos EUA. A grande maioria do povo brasileiro tem algum ascendente negro. Houve uma miscigenação muito grande, que impede que critérios "puros" sejam usados pra classificar as pessoas. O segundo motivo é que nunca existiu segregação racial aberta e legal no Brasil, apesar de algumas poucas exceções. Muito pelo contrário, toda a segregação no Brasil sempre foi feita com eufemismos e indiretas ("boa aparência", "elevador de serviço", "favelados").

Esses dois motivos impedem que exista uma consciência clara do racismo na grande maioria do povo, inclusive nos negros. E são a explicação fundamental para a ausência de movimentos de massas abertamente ligados à questão negra no Brasil, diferente dos EUA e de países como a África do Sul. 

Dito isso, então temos que perguntar: então, o que define alguém ser negro no Brasil. E qual papel essas condições têm no desenvolvimento da luta contra o racismo?


No Brasil, diferente dos EUA, o modelo principal foi o embranquecimento, e não a segregação.

Como desde cedo existiu uma grande quantidade de negros no Brasil (que era uma exigência do modo de produção escravista colonial), sempre aconteceu uma miscigenação muito forte da população. A estratégia das elites sempre foi jogar esses miscigenados (que vivem em condições sociais e econômicas quase iguais à dos negros) contra os negros, dizendo que eles são "brancos" como a elite (e portanto não "mereciam" o tratamento brutal dado aos escravos). O principal instrumento para isso era a negação, estigmatização e satanização da cultura negra (cortes de cabelo, roupas, religião, música, comida etc). Os miscigenados, que não têm a aparência com todos os traços dos negros africanos, passavam a ser aceitos, desde que tivessem "alma branca". De uma forma hipócrita, as classes dominantes brasileiras fingem que usam o critério oposto ao dos EUA, ou seja, "passou de negro é branco".

Então, existem duas formas de ser negro no Brasil. Uma delas é ter a aparência física (fenótipo, como diria a biologia) de um negro africano (uns 10% da população, segundo o IBGE). Nesse caso, a pessoa está sujeita à discriminação em qualquer lugar que for. A outra é sendo como cerca de 30% dos brasileiros hoje (os "pardos" do IBGE), mas assumindo parcial ou totalmente a cultura negra (praticando o candomblé ou a umbanda, usando dreadlocks, ouvindo funk ou pagode, jogando capoeira etc etc etc).

Nós dissemos várias vezes, quando os racistas dizem que é impossível dizer quem é negro no Brasil, que a polícia não tem dúvida nenhuma na hora de dar uma dura. Depois dessa explicação, podemos dizer quem a polícia escolhe na hora de dar uma dura: uma pessoa com a aparência de africano ou uma pessoa miscigenada que esteja ostentando as marcas da cultura africana.

Ou seja, a polícia não vai dar dura no cara de cabelo enrolado que está saindo de um concerto de piano, mas vai dar num que estiver saindo do pagode ou, mas provável, de um baile funk. Não vai dar dura numa pessoa de pele morena com uma bíblia na mão, mas certamente vai dar num cara com contra-egum. Não vai dar dura numa mulher de cabelo alisado, mas vai dar numa de dread. Não vai dar dura num cara de lábios grossos e nariz achatado que faça esgrima, mas vai dar num que jogue capoeira.


Qual a consequência política disso?

A maior consequência de todos é pressão constante para o embranquecimento cultural do povo. Diferente dos EUA, em que já existe uma parte da população que é vista por todos como negra, no Brasil é preciso todo um trabalho político e ideológico pra desembranquecer as pessoas. Então, a luta dos negros e de todos os trabalhadores contra o racismo tem um aspecto cultural inseparável, que o movimento e as organizações são obrigadas a levar em conta. 
 
A classe dominante tenta convencer os trabalhadores a fingirem que são brancos para sofrer menos racismo, negando a sua identidade, isolando e se jogando contra as necessidades dos negros. Pelo contrário, o papel dos revolucionários é lutar politicamente e ideologicamente para os trabalhadores assumirem a sua identidade e lutarem contra o racismo que prega o embranquecimento. 
 
Só podemos eliminar o racismo quando os trabalhadores negros romperem com a ideologia do embranquecimento, e convencerem os trabalhadores brancos da necessidade da luta contra o racismo, para unir os trabalhadores e isolar a classe dominante brasileira, fundamentalmente branca.
 

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